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Memento Mori – Um disco sobre o fim para ouvir sempre. 

Muito foi dito sobre o excepcional álbum novo do Depeche Mode – Memento Mori: que foi um álbum cujo tema terminou coincidindo com a morte de Andrew Fletcher, um importante membro da banda, apesar do título ter sido definido antes da morte dele; que foi pensado se sairia ou não, depois da morte do Andy; que é um dos mais sombrios da banda; entre outras definições e resenhas. 

Mas aqui quero relatar a minha experiência em ouví-lo e compartilhar com vocês

Não lembro de um álbum ter me emocionado tanto desde quando ouvi Violator pela primeira vez. Lembro do arrepio quando ouvi, em Delmiro Gouveia (sertão de Alagoas), Policy of Truth num programa de rádio via satélite chamado Conexão Europa e da emoção quando ouvi Enjoy The Silence. Emoção que dura até hoje e, dependendo do momento, me leva às lágrimas.

Memento Mori conseguiu essa proeza. Ghost Again, a primeira faixa divulgada desse novo trabalho, já me deu um nó na garganta. Não somente pelo belíssimo vídeo com clássica inspiração na obra de Ingmar Bergman, “O Sétimo Selo”, mas pelo tema que vem me tocando cada vez mais em meio aos meus 48 anos, a brevidade da vida. 

Lembre-se de que você é Mortal” é o significado de Memento Mori e o disco explora vários ângulos sobre a vida e a morte, principalmente sobre a Morte, o que te obriga a refletir.  

Zeit do Rammstein, Blackstar do David Bowie, são obras que já tinham mexido comigo sobre esse aspecto da brevidade da vida, mas o Depeche Mode me acertou em cheio.

Confira, faixa a faixa, as minhas impressões:

O disco abre com a sombria, cósmica e misteriosa “My Cosmos is mine” que te obriga a fechar os olhos e entrar em contato com o criador. Posso estar viajando, eu sei. A música te obriga a viajar e a letra dá margem a várias interpretações: 

“Não brinque com meu coração, Não derrube meus santuários, Não altere minhas manchetes. Meu cosmos é meu!”

Em seguida, entra uma sequência de palavras que se repetem em um coro que beira o divino

“Nenhuma guerra, nenhuma guerra, nenhuma guerra, nenhuma guerra

Não mais, não mais, não mais, não mais

Nenhum medo, nenhum medo, nenhum medo, nenhum medo

Não aqui, não aqui, não aqui, não aqui

Nenhuma chuva, nenhuma nuvem

Nenhuma dor, nenhum sudário

Nenhum suspiro final

Nenhuma morte sem sentido”

A faixa “Wagging Tongue” que vem na sequência poderia estar em Violator facilmente. A voz do Dave está belíssima e quando entra a voz de Martin é impossível não se emocionar. Refrão lindo, levada dançante em harmonia com camadas de sintetizadores harmoniosos e hipnóticos e quanto a letra, “Relax, Enjoy The Ride

Ghost Again é sublime. Melodia, arranjos, vozes e uma letra que tem tudo a ver com o título do álbum: 

“Olás, adeus, milhares de meias-noites

Perdidas em insones canções de ninar

Sonho dos céus

Pensamentos impensados, meus amigos

Nós sabemos que seremos fantasmas de novo”

O tempo é fugaz, amigos. “We know we’ll be ghosts again”.

Don’t say you love me” é uma belíssima e poética canção sobre opostos, contrastes, antíteses que te envolvem no primeiro acorde, na primeira nota, durante a jornada na voz do Dave, até o fim.

Já a dançante “My Favourite Stranger” mostra por que o Depeche Mode está no Olimpo da música eletrônica. A camada limpa e grave de sintetizadores casada com uma  batida quebrada mexe com você, mesmo que você queira ficar parado. 

Em “Soul With Me”, Martin Gore nos presenteia com uma balada linda, bem na linha oitentista. O acompanhamento, apesar de simples, é belo e afiado e o destaque fica mais para a bela e afinada voz do Martin. A letra fala da passagem para a eternidade com uma pegada mais tranquilizadora do que propriamente densa. 

Ouvindo “Caroline´s Monkey” identifiquei logo nos primeiros acordes de sintetizadores uma homenagem ou influência do Kraftwerk. É uma das minhas prediletas do álbum. O rítmo envolvente contrasta com a letra pessimista sobre dependência de drogas e depressão. 

Eis que chega a faixa que me arrancou lágrimas e sorrisos. “Before We Drown” não é só a melhor faixa do álbum como também é uma das melhores músicas do Depeche, na minha opinião. Tem uma tristeza avassaladora e ao mesmo tempo te ergue e isso é expressado não apenas pelas linhas melódicas, mas pela letra que fala na tentativa de não nos afogarmos diante das dificuldades das relações humanas. A batida dessa música…Deus, que coisa linda. 

“Primeiro nos levantamos, depois caímos

Temos que seguir em frente, antes que nos afoguemos.”

Se eu tinha alguma dúvida sobre a influência de Kraftwerk, ela acabou na belíssima People Are Good. É puro suco de Kraftwerk. Pelo que entendi, a letra exalta uma tentativa de acreditar que, apesar de tudo de ruim, as pessoas são boas. Para dançar e para pensar, é uma das mais lindas canções do álbum. Difícil não ter uma linda nesse álbum até aqui.

Uma declaração de amor em meio a um mundo mergulhado no Caos. A busca por um refúgio em um amor diante de um mundo louco mergulhado no ódio e na desesperança. “Always You”. Mais uma linda e reflexiva (porque não dizer romântica?) música que, na voz do Dave Gahan e numa pegada leve de electro, relaxa.

“E então há você

Sempre há você

Você é tudo que eu preciso para continuar acreditando

E então há você

Sempre há você

O ar que mantém meu espírito respirando.”

Quando começou “Never Let Me Go” lembrei de cara de uma das minhas prediletas do álbum Playing The Angel, a bela “Lilian”. 

A mais agitada e otimista do álbum e também a mais instigante. Destaque para um riff de guitarra avassalador. Fico imaginando essa num show. Tudo aqui é bom. Impossível ficar parado. 

A escolha para finalizar o álbum não poderia ser mais certeira. “Speak To Me” é a despedida, a partida, a súplica, o pedido final, a passagem. O fim. Com direito a uma melodia que parece cântico de anjos. 

Que disco meus amigos. O melhor do ano até aqui e o melhor em muito tempo. 

Um disco sobre a morte para se sentir vivo!

10/10

Enjoy

Texto: Alexandre (Condor)

Instagram: alexfnt242

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